domingo, 20 de junho de 2010

Um pouco sobre o escritor



Formado em Jornalismo pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC/RJ), Bernardo Teixeira de Carvalho fez mestrado em cinema na Escola de Comunicação e Artes da universidade de São Paulo (ECA/USP).

Conta com vários prêmios no currículo :

2003 - Prêmio Portugal Telecom de Literatura Brasileira, por Nove Noites (dividido com o contista Dalton Trevisan); Prêmio da Associação Paulista dos Crítics de Arte - APCA, por Mongólia; e Prêmio Machado de Assis, da Biblioteca Nacional, por Nove Noites.

2004 - Prêmio Jabuti, por Mongólia.

Romances Publicados:

1995 - Onze / Companhia das Letras - SP
1996 - Os Bêbados e os Sonâmbulos / Companhia das Letras - SP
1998 - Teatro / Companhia das Letras SP
1999 - As Iniciais / Companhia das Letras - SP
2000 - Medo de Sade / Companhia das Letras - SP
2002 - Nove Noites / Companhia das Letras – SP
2003 - Mongólia / Companhia das Letras – SP
2007 - O Sol se Põe em São Paulo / Companhia das Letras - SP
2009 - O Filho da Mãe / Companhia das Letras - SP

O Filho da Mãe



Tendo a guerra da Tchetchênia como pano de fundo, O Filho da Mãe, tem como foco a figura da mãe, o tema maternidade de um modo geral. Serão elas, moduladas e refratadas, o fio condutor dessa trama. A história se baseia em um encontro improvável entre dois rapazes , tendo por trás disso todo um painel familiar desses dois eixos. Uma novidade nesse romance de Bernardo Carvalho é a presença do narrador em terceira pessoa.

O local principal onde ocorre essa trama é São Petersburgo. A cidade está dividida entre os horrores da guerra e os preparativos para a grande festa de comemoração dos 300 anos da cidade. O livro conta duas histórias de dois rapazes. Um é refugiado da Tchetchênia que está trabalhando nas obras de reconstrução para a festa. O outro é um rapaz do extremo oriente da Rússia, filho de um brasileiro exilado que vai parar no exército num quartel em São Petersburgo. Os dois estão atrás de um passaporte para sair daquele inferno e é nesse momento que eles se encontram e a trama se desenvolve.

O Sol se Põe em São Paulo



Com um enredo difícil, “O Sol se Põe em São Paulo” baseia-se na história contada ao narrador da trama, pela dona de um restaurante japonês (Setsuko). O livro conduz o leitor a transitar de fazendas do interior de São Paulo à cybercafés em Tókio. Viaja ao passado e retorna ao presente, desnorteando o leitor e o próprio narrador da história.
A história envolve um triângulo amoroso no Japão pós-guerra entre: uma moça de boa família, um filho de industrial e um ator de kyogen; Michivo, Jokichi e Masukichi respectivamente. Ao ouvir a história o narrador viaja ao Japão para esclarecer detalhes obscuros da mesma e acaba descobrindo um sentido para a sua vida de publicitário desempregado.

Mongólia



Foi resultado de uma encomenda da editora Cotovia, na qual Bernardo deveria escolher um local no Oriente para passar dois meses. Devido a sua predileção por desertos, o local escolhido foi a Mongólia.O romance conta com três personagens: o narrador principal, ex-embaixador brasileiro na China, que relata através de diários a viagem feita por um diplomata ( o Ocidental) na procura de um fotógrafo(o Desaparecido) que desapareceu nos montes Altaj, no interior do país.
O resultado é uma mistura de narrativas de viagem, pesquisas sobre a história e a realidade econômica, que usam a trama como pretexto para descrever paisagens , mosteiros budistas, aspectos da cultura do povo de um país tão distante e diferente. Seguindo o seu estilo, o autor vai estimulando a curiosidade do leitor e somente nas últimas páginas revela a relação entre os três homens.

Nove Noites



Em uma mistura de realidade e ficção, com uma linha tênue os dividindo, Bernardo Carvalho conduz o leitor numa intrigante história na qual ele mesmo mergulhou em estudos e pesquisas para construir. O leitor fica em constante estado de dúvida e desconfiança em relação às novas informações que vão aparecendo ao longo da trama. Foi baseado em um caso real.

O romance é construído encima da morte do antropólogo americano Buell Quain no final da década de trinta. Ele cometeu suicídio no meio da floresta, voltando da tribo indígena dos "Krahô". Sua morte se tornou um tabu para a antropologia brasileira. Ao tomar conhecimento da história, o narrador começa uma investigação obsessiva e, quase até o final do livro, inexplicada sobre as razões que o levaram a cometer tal ato. Uma das peças chaves na descoberta desse mistério é o testamento escrito por um amigo de Quain que o conheceu nove noites antes do mesmo morrer(dái o nome do livro).No decorrer do livro vão sendo descobertas algumas razões pessoais que o levam a fazer essa investigação de modo tão assíduo.

Medo de Sade



A forma dos diálogos e sequências assim como a utilização do discurso direto livre, faz com que a narrativa tenha uma estrutura que se aproxima com a de uma peça teatral. O livro é organizado em dois "Actos", compostos por personagens em locais e situações diferentes, que aos poucos vão sendo reveladas as razões da sua coexistência.

No primeiro ato é contada a história de um barão que está preso, o mesmo não se lembra muito bem qual foi o motivo de sua prisão.O segundo ato conta a história de um casal francês, sem filhos, que na tentativa de dar continuidade ao seu casamento, cria um jogo inspirado no Marquês de Sade. O objetivo do jogo é o medo do parceiro. Um prega peça no outro, o primeiro que se render ao medo perde . O leitor acompanha a narrativa na expectativa de saber quem será o vencedor, e como de praxe do autor, o final é uma revelação que o faz rever todas suas conclusões.

As Iniciais



Em um mosteiro que foi transformado em retiro, doze pessoas que tem um comum uma experiência muito próxima da morte se encontram para um jantar. Primeiro, o enredo é dividido em dois momentos separados por um intervalo de dez anos. Um jantar e um almoço. Onde são apresentados os personagens e suas respectivas histórias. A certa altura o narrador ganha de um dos convidados um presente, uma caixinha de madeira com letras entalhadas como se fossem um código. A partir daí, decifrá- la torna-se uma obsessão.
A narrativa é constantemente entrecortada pelas sub-narrativas dos personagens, construindo um intenso vai-vem entre passado e presente, e até futuro. E é a forma majestosa como autor constrói essa trama que atrai o leitor, sempre deixando- o incerto quem aquelas pessoas realmente são.

Teatro



Este livro é dividido em duas partes. Envolve elementos como homicídios, cartas misteriosas e o submundo da pornografia. É uma história que contém várias outras, uma "ficção da ficção", em uma narrativa não linear. Devido a esses fatores, o leitor é confundido pela escrita de Bernardo e se vê obrigado a determinar o que é "real" ou não dentro da trama. Os personagens são identificados apenas por suas iniciais, com exceção de uma personagem:" Ana C.". Esta é mais uma forma de não deixar o leitor saber de uma forma segura quem são realmente cada um dos personagens.
Na primeira parte ("Os Sãos") o narrador é um ex-policial, cujo os pais atravessaram a fronteira ilegalmente. Ele se aposenta pouco antes dos últimos atentados de um terrorista que mandava cartas para profissionais bem-sucedidos com um pó amarelo que paralisava as vítimas. À medida que o policial dá seu depoimento sobre os atentados, ele conta outras histórias que acabam tendo um ponto em comum. Nessa mesma parte ele reencontra um antigo amor de infância, Ana C. (uma religiosa ex-atriz de filmes pornôs). Na segunda parte ("O meu Nome"), o narrador muda, agora é um fotógrafo, e Ana C. se torna protagonista da história. Enfim, um emaranhado de histórias que não se pode afirmar até que ponto são reais, onde ocorre uma intensa desconstrução de identidades.

Os Bêbados e os Sonâmbulos



Neste livro há uma narrativa no mínimo curiosa. Quem a faz é um militar homossexual, cujo personalidade está em transformação devido a um tumor no cérebro . Isso faz com que as informações ao longo da história sejam constantemente questionadas quanto a sua veracidade, sejam elas identificações de personagens ou localizações.
O militar sobreviveu a um acidente aéreo quando era pequeno, no qual o pai e o irmão morreram. Ao saber da notícia do tumor que não pode ser operado, ele sai em busca da mulher que o teria salvado na tragédia e também procura se aproximar de um amigo de infância. O avanço na história, e consequentemente da doença, vai deixando a identidade do narrador inconstante, tendo como desfecho uma revelação inesperada para ele.